Nossa Senhora
da Boa Viagem
Os portugueses, grandes desbravadores dos oceanos,
em sua devoção à Virgem não poderiam deixar de invocá-la em suas arriscadas
viagens. Assim, deram-lhe o título de "Nossa Senhora da Boa Viagem",
desde tempos imemoriais. Entretanto, a primeira igreja erigida em terras
lusitanas sob esta invocação deu-se no ano de 1618, perto de Lisboa.
No Brasil o culto a Nossa Senhora da Boa Viagem
passou primeiramente pela Bahia, onde foi construída uma pequena igreja junto à
praia. Em Pernambuco, por volta de 1707, o Pe. Leandro Carmelo construiu uma
capela, também junto à praia. Providenciou a confecção de uma imagem da Mãe de
Deus que foi colocada sobre o altar-mor do templo, em torno do qual surgiu o
famoso bairro da Boa Viagem, ponto turístico da capital pernambucana.
Ainda no século XVIII, foi construída, na baía de
Guanabara, uma capela no alto da península junto a Niterói. Para custear as
despesas do culto instituiu-se uma irmandade de pescadores e homens do mar.
Todas as embarcações que aportavam ao Rio de Janeiro pagavam de boa vontade uma
quantia para a manutenção do templo. Esta capela foi destruída por um incêndio
em 1860 e reconstruída pela Sociedade Protetora dos Homens do Mar.
A devoção também aportou em locais afastados do
litoral brasileiro. Por algo que só mesmo a Providência Divina pode explicar, a padroeira de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, é
Nossa Senhora da Boa Viagem. O historiador Augusto de Lima Jr. conta
que, como era costume, em meio a uma esquadra lusitana que chegou ao Rio de
Janeiro em 1709 encontrava-se a nau Nossa Senhora da Boa Viagem. Seu
comandante, não tendo condições de prosseguir viagem, pediu dispensa da Marinha
Real e com alguns companheiros embrenhou-se nos sertões de Cataguás em busca de
ouro. Entre os seus sequazes estava o piloto Francisco Homem del-Rei, que antes
de arriscar-se no interior de Minas Gerais, retirou do navio abandonado o nicho
com a imagem da Virgem da Boa Viagem e a levou como sua protetora.
Os aventureiros encontraram bastante ouro e se
enriqueceram. Francisco del-Rei adquiriu terras no cerro de Congonhas, águas
vertentes de um curral, isto é, fazenda de gado, que abastecia os mineradores
da região. O antigo piloto aí construiu uma ermida em honra da Senhora da Boa
Viagem, sua padroeira.
Essa capela foi destruída e em seu lugar, em 1905
ergueram a mais igreja antiga da cidade de Belo Horizonte, capital de Minas
Gerais. Em estilo neogótico, abriga vitrais de grande beleza. O altar-mor é
trabalhado em mármore carrara.
A propósito dessa Catedral, circula ainda uma lenda,
que foi recolhida pelo estudioso do folclore Saul Martins. A lenda, se não
desmente a história que se conta como verdadeira, serve para completá-la:
"no começo do séc. XVII um português, acompanhado pôr três escravos de
confiança, levava no lombo de dois burros, 15 arrobas ( aproximadamente 200 Kg
) de ouro em barras moedas e jóias. Ele foi perseguido por ladrões, quando
passava pelo povoado de Curral d’El Rey. Para escapar do bando, ele resolveu
enterrar a fortuna num tacho de cobre a 81 passos, em linha reta, contados da
entrada principal da capela, em direção ao pico mais alto, à vista, da serra
que deu o nome ao arraial. Vendo que não teria como escapar dos ladrões, o
português mandou que um dos escravos levasse um mapa do tesouro para sua esposa
em Caeté. Segundo a lenda, o português e os dois escravos foram mortos e o
tesouro continua até hoje pôr lá. A antiga capela é hoje a Catedral de Boa
Viagem!"
Nossa Senhora da Boa Viagem é também venerada na
cidade de São Bernardo do Campo (SP), na pároquia com o mesmo nome, criada no
dia 21 de outubro de 1812, quando desmembrou-se da freguesia da Sé. Em 1813, o
governo adquiriu terras de um certo Sr. Manoel Rodrigues de Barros para criação
do novo povoado e edificação do novo templo. Havia naquela época, na freguesia,
1.423 habitantes e 218 habitações, mas ainda não havia sido construída a
igreja. Apesar das tentativas do Pe. José Basílio, somente em agosto de 1814 é
enviado à freguesia o Tenente Coronel Engenheiro da Corte, Pedro Muller. Ele
constatou que tanto a capela estava sem condições, como o local era impróprio
para fundar um povoado. Escolheram um local mais aprazível, distante dali por
uns 600 pés, cortado pela estrada geral, atual Avenida Marechal Deodoro.
Possivelmente o ínicio da construção tenha ocorrido entre 1815 e 1818.
Presume-se que sua conclusão só tenha ocorrido por volta de 1848. Segundo
consta, desde de sua criação, ela já recebeu a denominação de Paróquia Nossa
Senhora da Boa Viagem.
Em Portugal, mais precisamente na vila de Ericeira,
todos os anos, nos dias 15 a 18 de agosto, desde 1947, a Senhora da Boa Viagem
é homenageada com bailes, espetáculos, fanfarras, procissões, missa campal. É
uma festa dos pescadores que todos os anos conta com uma comissão organizadora.
Todos os anos o mar e a praia são abençoados.
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