O
Filho de Deus nasceu revestido de nossa miséria humana,
escondendo-se sob as feições de um menino comum toda a “plenitude
de sua divindade” como disse São Paulo.
Assim
quase ninguém pôde suspeitar que naquele Menino chamado Jesus se
ocultasse Deus. Mas Deus, de sua maneira, quis manifestar a sua
glória, dignidade e a divindade.
Houve
a primeira manifestação aos pastores pobres de Belém, os primeiros
judeus a reconhecerem o seu Deus; eles contemplaram os Anjos cantando
o “Glória in excelsis Deo”. Esses pastores, avisados pelos
Anjos, naquela mesma noite reconheceram e adoraram o recém-nascido
Salvador do Mundo.
Uma
segunda manifestação da divindade de Jesus aconteceu quarenta dias
após o nascimento, em sua apresentação no Templo. Simeão e Ana
manifestaram a sua glória. Uma terceira vez, ainda mais solene,
aconteceu por meio de ilustres personagens, provenientes de longe: é
a terceira Epifania (manifestação) de Jesus ao mundo, mas agora aos
pagãos.
Enquanto
os anjos, com seus cânticos, anunciavam nos campos de Belém o
nascimento de Jesus, uma nova Estrela anunciava-O no Oriente de
maneira misteriosa. Os representantes dos pagãos foram os Magos;
homens que se ocupavam das ciências, especialmente da astronomia, da
medicina e da matemática.
Pouco
sabemos sobre esses reis Magos; eram pequenos reis soberanos de
tribos primitivas do Oriente, viviam como patriarcas, senhores de
rebanhos. Não há consenso sobre o país exato de onde vieram. São
Jerônimo (†420) e Santo Agostinho (†430) diziam que os Magos
vieram da Caldéia.
Os
Padres gregos, a tradição da Síria, vários doutores da Igreja,
afirmam que vieram da Pérsia. São Clemente de Alexandria (†215),
São João Crisóstomo (†407), Santo Efrém (†373), S. Cirilo de
Alexandria (†442), doutores da Igreja, afirmam que vieram da
Pérsia, onde eram sacerdotes e pertenciam à uma casta religiosa e
científica. Esses têm a seu favor as pinturas das Catacumbas de
Roma, dos primeiros séculos, que os representam sempre com roupas
persas: chapéus altos com abas caindo sobre os dois lados do rosto;
túnica branca e comprida presa na cintura, sobre a qual cai longo
manto para trás.
Segundo
esses Padres, os reis Magos eram cultos, conheciam os livros dos
judeus e professavam uma religião muita acima do paganismo;
conheciam a ciência dos astros e liam pergaminhos antigos. De alguma
forma conheciam a fé do povo judeu, a espera do Messias que traria
salvação não só para Israel, mas também para as demais nação.
Não podemos esquecer daquele eunuco etíope, evangelizado e batizado
por S. Felipe (At 8,29ss).
E
este oriental lia o profeta Isaias, e exatamente o trecho que falava
do Servo Sofredor (Is 53,7). Este fato é uma prova de que muitos no
oriente conheciam a glória de Israel e a sua fé.
E
não podemos esquecer também que: “A rainha de Sabá, tendo ouvido
falar de Salomão e da glória do Senhor, veio prová-lo com
enigmas.(1Rs 10,1-2).
Ora,
se a rainha de Sabá conhecia a fama de Salomão, 900 anos antes de
Cristo, então, os reis Magos também podiam conhecer a fé judaica.
Eles possuíam os livros dos hebreus deixados no exílio; e neles se
falava de um Salvador que nasceria de uma virgem em Israel, e que
seria adorado por todas as nações do mundo, e que seria o redentor
da humanidade.
Neste
tempo muitos no Oriente já usavam o astrolábio para conhecer as
estrelas e estudavam atentamente o céu. Não é fantasioso imaginar
que no mesmo dia do nascimento de Jesus eles possam ter vislumbrado
um astro diferente no céu, de uma beleza singular, que os fez
concluir que aparecera a “estrela de Jacó”, que se movia
do sul para o norte, em sentido contrário aos demais astros.
Santo
Inácio de Antioquia (†107), mártir em Roma, diz na Carta aos
Efésios que este astro que guiou os Magos era como aquela coluna de
fogo que guiou Israel pelo deserto em sua marcha à Terra Prometida.
Enfim, a fé os levou em busca do Salvador, e eles não desanimaram
até encontrá-Lo. Segundo uma tradição esses reis magos
simbolizavam as três raças humanas: a amarela, a negra a e branca,
descendentes dos três filhos de Noé: Sem (Gaspar), Cam (Balthazar)
e Jafé (Melchior).
Gaspar
que dizer: “ele vai levado pelo amor”; Balthazar quer dizer: “sua
vontade é rápida como a flecha e faz a vontade de Deus”; Melchior
significa: “Ele penetra docilmente”. Os reis da Abissínia
reivindicam a honra de serem descendentes dos reis Magos.
A
estrela milagrosa, servindo-lhes de guia, conduziu-os até a Cidade
Santa e desapareceu. A tal desaparecimento, pensaram os Magos que o
Menino tivesse nascido nessa cidade, razão pela qual perguntaram:
“Onde nasceu o Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no
Oriente e viemos para adorá-Lo.” (Mt 2, 2)
Eles
esperavam encontrar Jerusalém exultante e em festa, mas ficaram
decepcionados ao perceber que ninguém ali sabia informar sobre o
“Rei dos Judeus”. Certamente um desânimo profundo os abateu; mas
a fé e a coragem reviveram em seus pobres corações. Quem acendera
no firmamento aquela Estrela brilhante e os trouxera de tão longe,
não os abandonaria agora que chegaram.
Deus
age assim mesmo com os seus escolhidos; é para lhes testar a fé e
aumentar ainda mais os seus méritos. Conosco também é assim quando
somos guiados por Deus para fazer sua obra.
As
caravanas desses reis entraram em Jerusalém e assustaram a cidade;
deixando Herodes preocupado e sentindo-se ameaçado por aquele
Menino. Isto mostra que não estamos diante de uma lenda ou fantasia,
mas algo histórico. Herodes I, chamado o Grande, era descendente de
Esaú e não de Jacó, era de Edom, não era judeu. Fez-se eleger rei
da Judéia por ser adulador de Julio César.
Os
Magos concordaram com a “proposta” de Herodes, saindo da cidade,
foram novamente guiados pela estrela até o lugar onde se encontravam
José, Maria e o Menino. Aqueles reis compareceram com seus servos
diante da Sagrada Família e lhes deram presentes, depois de adorar o
Menino. Encontraram e viram o Criador feito Menino, no regaço de
Maria, que em sua simplicidade se preparara para receber a singular
visita, e, humildemente prostrados a seus pés, cheios de fé e
veneração, adoraram-No e se ofereceram a si mesmos juntamente com
as suas nações. É incrível que na fé régia os Magos não
tivessem se abalado diante da pobreza do Rei dos Judeus. Como pode um
rei nascer tão pobre e abandonado?
É
um milagre não terem voltado atrás desiludidos; esta é a maior
prova de que foram conduzidos por Deus até Belém para em nome dos
pagãos de todos os tempos prestarem o culto de adoração ao Menino
Deus. Souberam deixar que Deus lhes governasse os corações. Tomaram
portanto os vasos preciosos, expostos pelos servos em cima dos
tapetes, e, abrindo-os, ofereceram ao Menino, ouro, incenso e mirra:
misteriosa oblação em sinal dos profundos sentimentos de fé, amor
e veneração que lhes enchiam a alma, e símbolo da divindade do
Menino, de sua majestade e de sua missão redentora.
Após
os mais vivos agradecimentos, regressaram, e, avisados em sonho pelo
Anjo do Senhor para não tornarem a Herodes, por outro caminho
voltaram à sua pátria. Estava cumprida a sua missão. Uma bela
missão de fé.
Prof.
Felipe Aquino
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