Cristãos
não precisam ter filhos em série, disse o Papa, ressaltando que o
que a Igreja defende é uma paternidade responsável
Da
Redação, com Boletim da Santa Sé
Francisco
explica aos jornalistas posição da Igreja sobre contracepção /
Foto: Arquivo-L’Osservatore Romano
A
contracepção foi um dos temas que os jornalistas abordaram com o
Papa Francisco na coletiva que aconteceu no voo de Manila para a Roma
nesta segunda-feira, 19. A resposta do Santo Padre reiterou o que a
Igreja defende: uma paternidade responsável, de forma que os
cristãos não precisam ser como coelhos, tendo filhos em série.
O
Santo Padre contou que, há alguns meses, repreendeu uma mulher que
estava grávida do oitavo filho, após sete cesáreas. “Esta é uma
irresponsabilidade. ‘Não, eu confio em Deus’. ‘Mas, veja, Deus
te dá os meios, seja responsável’. Alguns acreditam que –
desculpem a palavra – para ser bons católicos devemos ser como
coelhos. Não. Paternidade Responsável”.
A
abordagem feita ao Papa foi ligando a contracepção ao mito de que
os cristãos devem ter muitos filhos. Francisco recordou que a
Igreja sempre promoveu o princípio da paternidade e maternidade
responsáveis, contido na encíclica Humanae vitae,
de Paulo VI.
Ele
lembrou que a abertura à vida é condição do Sacramento do
matrimônio. Recordou também que Paulo VI estudou essa questão da
abertura à vida com uma comissão, como fazer para ajudar tantos
casos, tantos problemas. Mas Paulo VI não se deteve apenas aos
problemas pessoais.
“Ele
olhava para o neo-malthusianismo universal que estava em andamento
(…) E como se chama este novo malthusianismo? É o menos de 1% do
nível dos nascimentos na Itália, o mesmo na Espanha. Aquele
neo-malthusianismo que procurava um controle da humanidade pelas
potências. Isso não significa que o cristão deve fazer filhos em
série”.
O
Santo Padre acredita que três filhos é um número bom para a
família a fim de manter a população, pois menos que isso ocasiona
o outro extremo, que tem a Itália como exemplo: diz-se que em 2024
não haverá dinheiro para pagar os aposentados do país. Novamente,
a palavra-chave é “paternidade responsável”, que se faz com
diálogo.
Francisco
destacou como curiosidade o outro aspecto dessa questão: o fato de
que, para os mais pobres, um filho é um tesouro e Deus sabe como
ajudá-los. “Talvez alguns não são prudentes nisso, é verdade.
Paternidade responsável. Mas é preciso olhar também para a
generosidade daquele pai e daquela mãe que veem em cada filho um
tesouro”.
Corrupção
Quando
a conversa com a imprensa chegou ao tema da corrupção, Francisco
reiterou que este mal, e a prevaricação que se segue, são um
problema mundial que encontra ninho facilmente nas instituições,
fazendo dos pobres suas vítimas preferidas.
“A
corrupção é tirar do povo. Com a pessoa corrupta, que faz negócios
corruptos, ou governa de maneira corrupta ou vai associar-se com os
outros para fazer um negócio corrupto, rouba o povo”.
Francisco
comentou ainda a corrupção nas instituições eclesiais, dizendo
que existem casos. “Quando eu falo de Igreja, gosto de falar dos
fiéis, dos batizados, toda a Igreja. E ali é melhor falar de
pecadores. Todos somos pecadores. Mas quando falamos de corrupção,
falamos ou de pessoas corruptas ou de instituições da Igreja que
caem na corrupção e há casos (…) Mas recordemos isso: pecadores
sim, corruptos não! Corruptos nunca! Devemos pedir perdão por
aqueles católicos, aqueles cristãos que escandalizam com a sua
corrupção”.
Liberdade
de expressão
Um
dos jornalistas pediu ao Papa um esclarecimento sobre sua
consideração na coletiva de imprensa no voo de Colombo para Manila,
sobre limites da liberdade de expressão. A questão foi sobre o
“soco” que o Pontífice disse que possivelmente daria em seu
organizador de viagens caso ele falasse mal de sua mãe. Francisco
reafirmou que, “em teoria”, todos concordam em oferecer a outra
face em caso de provocação, mas a realidade é que “somos
humanos” e, portanto, uma repetida ofensa pode desencadear em uma
reação errada.
“Em
teoria, podemos dizer que uma reação violenta diante de uma ofensa,
de uma provocação, em teoria sim, não é uma coisa boa, não se
deve fazer. Em teoria podemos dizer aquilo que o Evangelho diz, que
devemos dar a outra face. Em teoria, podemos dizer que nós temos a
liberdade de exprimir e esta é importante. Na teoria, estamos todos
de acordo. Mas somos humanos, e há a prudência que é uma virtude
da convivência humana. Eu não posso insultar, provocar uma pessoa
continuamente, porque corro o risco de irritá-la, de receber uma
reação não justa, não justa. Mas é humano, isso. Por isso digo
que a liberdade de expressão deve considerar a realidade humana e
por isso digo que deve ser prudente”.
“Colonização
ideológica”
Também
pediram que o Papa explicasse melhor o conceito de “colonização
ideológica”, que ele citou no encontro com as famílias. Na
resposta, o Francisco citou um episódio de 20 anos atrás, em que um
ministro da Educação, que tinha pedido um grande empréstimo para
construir escolas para os pobres, recebeu como condição a
introdução nas escolas de um livro que ensinava a teoria do gênero.
“Esta
é a colonização ideológica: entram em um povo com uma ideia que
não tem nada a ver com o povo; sim, com grupos do povo, mas não com
o povo, e colonizam o povo com uma ideia que muda ou quer mudar uma
mentalidade ou uma estrutura (…) Mas isso não é novidade. O mesmo
fizeram as ditaduras do século passado. Entraram com a sua doutrina.
Pensem nos Balilla, pensem na Juventude Hitlerista. Colonizaram o
povo, queriam fazê-lo. Mas quanto sofrimento! Os povos não devem
perder a liberdade”.
Terrorismo
Sobre
o seu apelo aos países islâmicos para que tomem uma posição
contra os grupos terroristas, Francisco disse ser preciso dar um
pouco de tempo, pois a situação deles não é fácil. “Tenho
esperança porque há muita gente boa entre eles, tanta gente boa,
tantos líderes bons”.
Fonte:
Canção Nova
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