O
trabalho é dimensão constitutiva do ser humano e não oportunidade
para a violação da sua dignidade, diz a nota
CNBB
A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço
da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), divulgou nesta quarta-feira, 28, nota por ocasião
do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. A data foi criada em
2004 e, presta homenagem a quatro auditores do Ministério do
Trabalho e Emprego, assassinados quando investigavam a suspeita de
uso de mão de obra escrava em fazendas de feijão em Unaí (MG).
Na nota, o bispo de Ipameri (GO) e presidente da
Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça
e da Paz, dom Guilherme Werlang, recorda que “a exploração do ser
humano, através do trabalho escravo, é um grave desrespeito à
pessoa humana, especialmente ao direito de trabalhar em condições
dignas, recebendo um salário justo”.
Dom Guilherme diz que a Igreja insiste no
“compromisso do Estado brasileiro de continuar adotando medidas
firmes que inibam a prática do trabalho escravo”.
Nota por ocasião do Dia Nacional de
Combate ao Trabalho Escravo
A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço
da Caridade, da Justiça e da Paz, da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil – CNBB, neste Dia Nacional de Combate ao Trabalho
Escravo, dirige uma palavra a todos que se empenham em eliminar este
crime.
Em 2014, a Campanha da Fraternidade teve como
tema “Fraternidade e Tráfico Humano”, com o objetivo de
identificar as práticas de tráfico humano e denunciá-las como
violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos
e a sociedade brasileira para erradicar esse mal, com vistas ao
resgate da vida dos filhos e filhas de Deus.
A exploração do ser humano, através do
trabalho escravo, é um grave desrespeito à pessoa humana,
especialmente ao direito de trabalhar em condições dignas,
recebendo um salário justo. O trabalho é dimensão constitutiva do
ser humano e não oportunidade para a violação da sua dignidade.
A sociedade tem a tarefa de conduzir-se por uma
economia que preze a dignidade humana, acima de tudo. Isto implica,
entre outras coisas, eliminar a prática do trabalho escravo em
qualquer faixa etária, nas diferentes relações de trabalho, seja
na agropecuária, na construção civil, na indústria têxtil, nas
carvoarias, nos serviços hoteleiros e em serviços domésticos. Os
migrantes e imigrantes estão mais expostos à essa exploração,
devido à sua situação de vulnerabilidade e necessidade trabalhar
para prover o próprio sustento e o da família.
Urge reafirmar, de forma inequívoca, o
inalienável valor da vida e da dignidade humana que transcende
qualquer finalidade econômica. Preocupa-nos a tramitação, no
Congresso Nacional, das tratativas visando revisar a definição
legal do trabalho escravo, sob pretexto de regulamentar a Emenda
Constitucional 81/2014 (confisco da propriedade flagrada com trabalho
escravo), bem como os ataques recentes contra a Lista Suja, um
instrumento valioso no combate ao trabalho escravo. Não se pode, em
hipótese alguma, retroceder na política nacional de combate ao
trabalho escravo, iniciada a 20 anos.
Insistimos no compromisso do Estado brasileiro
de continuar adotando medidas firmes que inibam a prática do
trabalho escravo. Neste aniversário da trágica chacina de Unaí-MG,
que ceifou a vida de quatro funcionários do Ministério do Trabalho,
reitera-se o apelo a que se esmere na proteção e defesa dos que
lutam pelo fim do trabalho escravo. A garantia da reinserção, na
sociedade, das pessoas libertadas, também requer atenção e adoção
de políticas facilitadoras deste processo.
Lembramos a todos as palavras do Papa Francisco,
por ocasião do Dia Mundial da Paz: “Lanço um veemente apelo a
todosos homens e mulheres de boa vontade e a quantos,
mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de
perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que
não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista
dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de
liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne
sofredora de Cristo, o Qual Se torna visível através dos rostos
inumeráveis daqueles a quem Ele mesmo chama os «meus irmãos mais
pequeninos» (Mt 25, 40.45)”.
Que Jesus Cristo que habitou o coração de
Santa Bakhita, a escrava que testemunhou a esperança, nos anime a
proclamar que a vida e a dignidade de todas as pessoas passa pelo
trabalho digno e sua justa valorização.
Brasília, 28 de janeiro de 2015
Dom Guilherme Werlang
Bispo de Ipameri – GO
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para
o serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
Bispo de Ipameri – GO
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para
o serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
Fonte: Canção Nova
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