Padre
Roger Araújo analisa a trajetória de Francisco nesses dois anos à
frente da Igreja e destaca dois aspectos: a ternura e o vigor
Padre
Roger Araújo
Jornalista e membro da Comunidade Canção Nova
Jornalista e membro da Comunidade Canção Nova
Dois
anos de pontificado do Papa Francisco
Francisco
completa dois anos de pontificado, nessa sexta-feira, 13;
proximidade ao povo é uma de suas marcas / Foto: Montagem –
Arquivo CN
Praça
de São Pedro lotada e uma chuva se misturava a uma fumaça meio
branca meio cinzenta. Há 2 anos, quando apareceu na janela da
Basílica da São Pedro como o novo Pontífice da Igreja Católica, o
cardeal Argentino Jorge Mario Bergolio era uma surpresa para alguns e
uma incógnita para outros. A novidade não era só pela procedência
(primeiro Papa do continente americano), mas o próprio nome que
escolheu para si. Francisco, repleto de significados devido à sua
importância num dos períodos mais críticos da história da Igreja.
O pobrezinho de Assis reconstruiu a Igreja de seu tempo e, agora, o
Novo Francisco é chamado a reconstruir a Igreja, começando pela
cabeça dela.
Em
2 anos de pontificado, Francisco tem sido uma síntese da ternura e
do vigor que a Igreja dos nossos tempos precisa. Ele não tem medido
esforços para buscar as reformas de que a Igreja necessita para ser
cada vez mais fiel na sua missão de evangelizar. Assumiu a Reforma
da Cúria Romana como uma das prioridades do seu trabalho. A Reforma
começou pela sua própria vida. Abriu mão de privilégios e
direitos e tem procurado uma vida mais austera e simples na qualidade
de líder máximo da Igreja. Abriu mão dos seus aposentos para viver
na Santa Marta com outros cardeais. Pediu rigor nas contas e gastos
do Vaticano e total transparência na vida financeira da instituição.
Não passou a mão na cabeça, nos erros e nas falhas que ela tenha
cometido e decretou tolerância zero em relação à pratica de
pedofilia por parte de qualquer um dos seus membros.
Francisco
não tem focado seu ministério em viagens apostólicas, mas as
poucas que fez foi repleta de significados e esperança. A primeira
delas foi por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, aqui no
Brasil, com poucos meses à frente da Igreja. Ele foi ao encontro do
povo, dos jovens e dos mais sofridos. Ofereceu colo, afeto e a força
do diálogo a todas as esferas da sociedade. Sua presença na Coreia
do Sul e também nas Filipinas foi festiva e, ao mesmo tempo, sinal
de um novo tempo para a Igreja no continente asiático. Francisco foi
à Terra Santa como continuação do gesto que fez os seus
predecessores, porém, mais do que focar sua viagem no fato de estar
nos “lugares santos”, ele buscou ser uma ponte para o diálogo
tenso entre palestinos e israelenses, e mostrou que a maior força da
fé cristã é a promoção da pessoa humana e a paz entre os povos.
Líderes
de todos os continentes já foram ao encontro do Papa Francisco. Ele
tem sido um símbolo e uma força para a superação de conflitos
históricos para a humanidade. Sua mediação foi fundamental para a
aproximação entre EUA e Cuba e, sobretudo, para a retirada do
embargo que havia de um país sobre o outro, após décadas sem
nenhum diálogo ou aproximação. No Parlamento Europeu, ele foi a
voz dos países mais pobres e a presença de comunhão e
solidariedade entre as nações.
No
papel de líder da maior religião em números demográficos, a
evangelização tem sido o carro-chefe de sua missão. Francisco não
promove o sectarismo nem a exaltação da doutrina e da moral
católica como o bem maior da Igreja. Francisco se preocupa com a
pessoa humana. Com sua dignidade e seus valores, combate toda e
qualquer forma de cultura política, econômica ou religiosa que não
privilegie o ser humano e sua dignidade. Ele não veio para mudar uma
vírgula da Doutrina Católica, mas questiona seus métodos e meios
de aplicação para os tempos de hoje. Sua atuação pastoral revela
um Papa pastor que se preocupa com a ovelha machucada e excluída.
Seu maior desafio não é promover a Igreja, mas sim os valores
cristãos para uma sociedade secularizada e, muitas vezes,
indiferente e machucada com as religiões.
Fonte:
Canção Nova
Nenhum comentário:
Postar um comentário