Cabe
aos católicos manter vivo o significado genuíno da Semana Santa e
da Páscoa. Não esperemos isso dos que não são cristãos ou
católicos, explica o cardeal
Cardeal
Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
Arcebispo de São Paulo
Há
várias semanas, os anúncios comerciais chamam para as compras no
mercado da Páscoa. Mas os ovos de chocolate, neste ano, andam muito
caros… A inflação e a crise econômica incidiram pesadamente no
doce comércio de Páscoa!
E
o bacalhau, nem se fala! Os preços estão proibitivos. Sem bacalhau,
será uma Sexta-feira da Paixão sem graça? Como se pode passar a
Sexta-feira Santa sem comer uma pratada abundante de bacalhau? Ainda
não entendi por qual razão precisa ser justamente nesse dia, quando
a Igreja convida todos os que podem a fazerem um dia de penitência,
de jejum e abstinência de carnes… Alguém dirá que bacalhau não
é carne… Como assim? Se carne de frango é carne, a de peixe, o
que é?
Parece
que a preocupação maior desta Semana Santa é preservar alguns
costumes culinários ou gastronômicos… Certo, Páscoa é festa
grande e é justo que se faça uma refeição festiva; mesmo com
poucos recursos e boa dose de criatividade, na Páscoa é possível
fazer festa com a família e os amigos!
Não
seria bom ir um pouco além da cozinha e da mesa? O que torna esta
Semana especial é o fato de ela ser “santa”, ou seja, reservada
especialmente para Deus e as coisas da fé. Nela, deveríamos dedicar
um tempo maior à oração, à busca de Deus, mesmo através de uma
boa revisão da vida, tentando perceber a quantas andam as coisas com
a vida da gente.
Nem
todos têm a nossa visão das coisas; quero dizer, a visão dos
católicos. É compreensível e não queremos impor nada a ninguém.
Falamos aos católicos, para o “povo de casa”… Tomemos
consciência de que os dias feriados e a festa da Páscoa, com suas
manifestações culturais, são de origem cristã. Cabe a nós,
preencher de sentido estas festas e comemorações, que se estenderam
para dentro da cultura.
Poderá
acontecer, se já não está acontecendo, que as tradições cristãs
e católicas, pouco valorizadas e cultivadas até por católicos, vão
perdendo o seu significado originário, que é alterado e até
substituído por práticas que nada têm a ver com essas festas e
tradições culturais cristãs. Cabe aos católicos manter vivo o
significado genuíno da Semana Santa e da Páscoa. Não esperemos
isso dos que não são cristãos ou católicos.
No
mundo plural de hoje, quem não tem convicções firmes e conceitos
claros acaba sendo absorvido pelo ambiente… E já vamos percebendo
sempre mais que, em lugar das procissões da Sexta Feira Santa, vão
aparecendo ruidosas manifestações de massa, por vezes, bem pertinho
de nossas igrejas e procissões… Esta é a hora das convicções
firmes e da consciência clara das nossas próprias manifestações
de fé!
A
Semana Santa, que deveria ser um tempo mais voltado para a oração e
para a participação nas celebrações da Igreja, vai se tornando
sempre mais uma ocasião para um feriadão estendido, viagens e todo
tipo de programas, sem mais nenhuma marca cristã… Fica estranho
ver as igrejas meio vazias no Domingo da Páscoa da Ressurreição,
justamente quando elas deveriam estar mais cheias que nunca!
Na
Semana Santa somos confrontados com o infinito amor de Deus, que amou
tanto o mundo, ao ponto de lhe enviar seu Filho único, para que todo
o que nele crer não pereça para sempre, mas tenha a vida eterna. E
somos colocados diante do amor de Cristo por nós, um amor sem
reservas, “até o fim”: Ele desceu ao fundo do poço da miséria
humana para estender a mão do perdão e da misericórdia de Deus a
todos…
Na
Semana Santa, deixemo-nos envolver de graça e de perdão; e, com São
Paulo, deixemo-nos mover por este pensamento: “Ele me amou e por
mim se entregou na cruz!” E renovemos nossa adesão de fé e nossa
disposição de segui-lo nos caminhos da vida. Vida que se renova na
sua paixão, morte e ressurreição. E nada impede que também se
faça festa na Páscoa! Apesar de ser com menos chocolate e bacalhau…
Fonte:
Canção Nova
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