Papa Francisco condenou o tribalismo e disse que solução é ouvir, abrir o coração e estender a mão ao outro; cerca de 70 mil jovens quenianos estiveram presentes no Estádio
Denise
Claro
Da redação
Da redação
O
Papa Francisco se encontrou na manhã desta sexta-feira, 27, com
cerca de 70 mil jovens quenianos no Estádio Kasarani, em Nairóbi.
Os jovens o receberam com muito entusiasmo e música. Logo no início
uma jovem com deficiência visual fez a leitura da Palavra de Deus, e
em seguida uma orquestra juvenil da favela de Corococho se apresentou
ao Papa com a Ave Maria de Gounod.
A
saudação foi feita por Dom Anthony Muheria, que afirmou: “Diante
do senhor estão jovens representantes de todas as classes da nossa
nação. Todos estão aqui para dizer o quanto o admiram e o amam.
Obrigado, Santo Padre, por ser este modelo e herói para tantos
jovens”. Dom Muheria ainda disse que aqueles jovens querem ser
instrumentos de mudança, em meio aos tantos conflitos e
desigualdades existentes no país. Antes ainda do discurso do Papa,
dois jovens quenianos deram seu testemunho, apresentando a difícil
situação da juventude no país e o desejo de mudança.
O
Papa começou o discurso agradecendo pelos terços rezados por ele, e
afirmou que existe uma pergunta que está na base de todas as
perguntas feitas pelos jovens: “Por que acontecem as divisões, as
guerras e a morte? O fanatismo e a destruição entre os jovens? Por
que existe este desejo de destruir? Na primeira página da Bíblia,
depois de todas as maravilhas que Deus fez, um irmão mata o outro
irmão. É o espírito do mal, que nos leva à destruição.”
Francisco
disse que “o homem perde o melhor da sua humanidade quando se
esquece de rezar, porque se sente onipotente, não sentindo
necessidade de pedir ajuda a Deus diante das tragédias.” E lembrou
aos jovens que apesar da vida ser cheia de dificuldades, há duas
maneiras de encarar os desafios: “como algo que destrói ou como
uma oportunidade de superação”.
A
seguir, desafiou os jovens perguntando-os se “são como os
esportistas que lutam para vencer ou como aqueles que já venderam a
vitória aos outros e colocaram o dinheiro no bolso?”.
O
Papa condenou o tribalismo e disse que este é capaz de destruir uma
nação. “O tribalismo é ter as mãos escondidas atrás, e ter uma
pedra em cada mão para lançar contra o outro.” E disse que a
solução está em ouvir o outro, buscando entender sua cultura, sua
tribo e costumes; abrindo o coração a realidade do outro e
entendendo-lhe a mão: “Se vocês não dialogam e não escutam
entre si, sempre vai existir o tribalismo, uma engrenagem que vai
roer a sociedade.”
Francisco
pediu então que todos no estádio dessem as mãos, e repetissem que
são todos uma única nação. E repetiu: “Vencer o tribalismo é
um trabalho de todos os dias. Um trabalho de ouvir o outro, abrir-lhe
o coração e estender as mãos.”
Contra a corrupção
Aos
jovens, o Papa exortou a rejeitarem o “açúcar da corrupção”
que rouba a alegria e a paz interior. E afirmou que em todas as
instituições, “inclusive no Vaticano”, há casos de corrupção.
Na comparação, o Papa disse que a corrupção “é como o açúcar,
é doce, é fácil, e depois ficamos mal. Depois acabamos nos
tornando diabéticos.” E exortou aos jovens: “Por favor, não
tome gosto de receber este açúcar que se chama corrupção.(…) A
corrupção não é um caminho de vida, é um caminho de morte.”
Respostas
Referindo-se
ao testemunho pessoal dos dois jovens, que lhe fizeram algumas
perguntas, o Papa se questionou: “Por que os jovens,
cheios de ideais, se deixam arrastar pelo radicalismo religioso? Por
que se distanciam da família, dos amigos, da pátria e da vida? Por
que aprendem a matar?
Francisco perguntou:
“Se um jovem ou uma jovem não tiver trabalho e não pude estudar o
que poderia fazer?” E respondeu: “Poderia correr o risco de cair
na dependência da droga, praticar atividades criminosas e até se
suicidar”.
A
solução, para o Santo Padre, é que os jovens tenham uma boa
educação e um trabalho: “Sem isso, há um perigo social
que depende de um sistema injusto, cujo centro não é Deus, mas
o dinheiro.” E concluiu pedindo aos jovens quenianos que
rezem por seus colegas, porque “Deus é mais forte do que todo
recrutamento”.
Olhar para Deus em meio às tragédias
Ao
tentar responder à pergunta “Como podemos ver a mão de Deus
numa tragédia?”, o Papa disse que não há uma resposta, a não
ser olhar para o Filho de Deus: “Deus o entregou para salvar a
todos nós. Deus mesmo se fez tragédia e se deixou destruir na
Cruz.” E completou: “Quando vocês não tiverem resposta, olhem
para a Cruz, ali está o fracasso de Deus, a destruição de Deus,
mas também ali está o desafio para a nossa fé, a esperança,
porque a história não terminou neste fracasso, mas na
ressurreição.”
E
fez uma confissão: “No meu bolso tenho sempre duas coisas: um
terço para rezar e a história do fracasso de Deus, uma Via Sacra.
Com essas duas coisas me arranjo como posso. Porém, graças a essas
duas coisas, não perco a esperança.”
Remédio para a Humanidade
O
Papa concluiu seu discurso falando sobre o abandono de crianças e
idosos, e disse ser necessário defender a família. Aos jovens no
estádio, deu uma regra de ouro para a solução dos problemas
humanos: “Como sair desta experiência? Há um só remédio:
fazer aquilo que eu não recebi. Se vocês não receberam
compreensão, sejam compreensivos com os demais. Se vocês não
receberam amor, amem os demais. Se vocês sentiram a dor da solidão,
aproximem-se daqueles que experimentam solidão. A carne se cura com
a carne. Deus se fez carne para curar-nos. Vamos fazer o mesmo entre
nós.”
Fonte:
Canção Nova
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