A transparência dos bens da Igreja, a luta contra à fome e contra o desperdício de alimentos foram os principais temas que conduziram a meditação do Papa e seus colaboradores na manhã desta quarta-feira, 9
Rádio
Vaticano
O
Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana entraram no
quarto dia de reflexões propostas pelo Padre Ermes Ronchi durante
os exercícios
espirituais de Quaresma,
em Ariccia. “Aquilo que mais fere o povo cristão é o apego do
clero ao dinheiro”, enquanto “o que faz o povo cristão feliz é
o pão compartilhado”, observou Padre Ronchi.
Neste
contexto, a transparência dos bens da Igreja, a luta contra à fome
e contra o desperdício de alimentos foram os principais temas que
conduziram a sexta meditação na manhã desta quarta-feira, 9.
“Existem
pessoas tão famintas que para elas Deus não pode não ter outra
forma a não ser a de um pão”. Estas foram as palavras iniciais da
meditação de Padre Ronchi. A vida tem início com a fome, disse,
“estar vivo é ter fome”. E se a visão se amplia, vê-se uma
fome das massas, “o assédio dos pobres”, milhões de punhos
cerrados que pedem algo para comer, não pedem “uma definição
religiosa”. – E a Igreja, como responde?
Não às cortinas de fumaça
As
palavras do Evangelho com as quais Padre Ronchi intercala as suas são
aquelas da multiplicação dos pães e dos peixes e da pergunta de
Jesus aos discípulos: “Quantos pães vocês têm? Vejam!”.
Jesus, observa Padre Ronchi, “é muito prático”, pede “para
fazer as contas”.
“Isso
é pedido a todos os discípulos também hoje, e a mim: quanto tens?
Quanto dinheiro, quantas casas? Que padrão de vida? Vejam,
verifiquem. Quantos carros ou quantas joias em forma de cruz e de
anéis? A Igreja não deve temer a transparência, não deve ter
nenhum medo da clareza sobre os seus pães e peixes, seus bens. Cinco
pães e dois peixes”.
Compartilhar é multiplicar
“Com
a transparência se é verdadeiro. E quando se é verdadeiro se é
também livre”, afirma o pregador dos exercícios. Como Jesus, que
“não se fez comprar por ninguém”, e “jamais entrou nos
palácios dos potentes, somente quando prisioneiro”.
Quando
não se tem, nota Padre Ronchi, procura-se reter, como aquelas Ordens
religiosas que tentam administrar os bens como se isso pudesse
produzir aquela segurança corroída pela crise das vocações. Ao
invés, a lógica de Jesus é aquela do dom. “Amar” no Evangelho
se traduz em um verbo seco: “dar”. O milagre da multiplicação
diz isto, que Jesus “não se preocupa com a quantidade” do pão,
aquilo que quer é que o pão seja compartilhado.
“De
acordo com uma misteriosa regra divina: quando o meu pão passa a ser
o nosso pão, também o pouco passa a ser suficiente. E, ao
contrário, a fome começa quando restrinjo o meu pão a mim, quando
o Ocidente saciado restringe seu pão, seus peixes, os seus bens para
si (…) Alimentar a terra, toda a terra, é possível, há pão em
abundância. Não é preciso multiplicá-lo, basta distribuí-lo,
começando por nós. Não são necessárias multiplicações
prodigiosas, mas derrotar a Gula do egoísmo, do desperdício de
alimento e do acúmulo de poucos”.
A fome dos outros tem direitos sobre mim
“Dai
e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante
será colocada na dobra da vossa veste…”. Nesta promessa de Jesus
está contida, reitera Padre Ronchi, “a misteriosa, imensa economia
do dom e do cêntuplo, que é o diferencial de todas as balanças.
Isto “me conforta – disse – porque mostra que a verdade última
segue a lógica do dom, não aquela da observância”. E a “pergunta
última será: doaste pouco ou doaste muito à vida”. “Disto
depende a vida, não dos bens”, conclui Padre Ronchi. E são
suficientes cinco pães doados para mudar o mundo.
“O
milagre são os cinco pães e os dois peixes que a Igreja nascente
coloca nas mãos de Cristo confiando-se, sem calcular e sem reter
qualquer coisa para si e para o próprio jantar. É pouco mas é tudo
aquilo que tem, é pouco mas é o jantar completo dos discípulos, é
uma gota no mar, mas é aquela gota que pode dar sentido e pode dar
esperança à vida”.
Fonte:
Canção Nova
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