Padre
Anderson Marçal destaca que o espírito natalino está no coração
de quem reconhece no Natal o sentimento de gratidão a Deus
Padre
Anderson Marçal
Doutor
em Teologia Pastoral Bíblico-Litúrgica
Estamos
habituados e ver o Natal somente como um encantador Menino que sorri
ou chora. E por isso, a única motivação que pode vir é o retorno
à inocência verdadeira marcada na infância. Ao contrário, é um
fato tremendamente sério e severo, pleno de pobreza e humilhação.
É a epifania, ou seja, a presença de Cristo no mundo, próprio
neste nosso mundo empastado de problemas e de tragédias. Não nos
convida a deixar o mundo, para retirar-nos de um reino utópico
criado pela fantasia, mas de buscar e encontrar Cristo no nosso
mundo assim como é, não como deveria ser.
Certo
dia, o anjo Gabriel foi enviado a uma jovem, chamada Maria, da cidade
de Nazaré, para dar-lhe uma boa nova. Ela seria a mãe do filho de
Deus. Logo após o anúncio, Maria foi à casa de Isabel, sua prima.
Ao chegar, Isabel percebeu que havia algo especial em Maria. Era a
presença de Jesus em seu ventre. Maria, por estar tão feliz,
desejou que por estar tão feliz, desejou que muitas pessoas
conhecessem seu filho Jesus, que mudou a sua vida e a da humanidade.
Ela canta, então, no seu Magnificat a esperança de uma vida nova,
com Jesus, para os que sofrem, os abandonados, aqueles que são
esquecidos e para todos os que acreditam em Jesus. Mesmo sem ainda
ter nascido, ele era sinal de vida por onde sua mãe passava (cf. Lc
1,47-55).
No
tempo do nascimento de Jesus, o imperador Augusto convocou as pessoas
para um recenseamento. Maria e José foram a Belém. Quando chegaram
na cidade, não encontraram lugar nas hospedarias e foram parar num
estábulo. Jesus nasce ali no meio do feno, entre os animais. O
nascimento dele contagiou muitas pessoas, até uma estrela foi
testemunha, quando Jesus nasceu. Os anjos, cheios de alegria,
anunciaram aos pastores o seu nascimento e eles foram depressa até a
estrebaria e encontraram o menino, tão pequeno, mas que mudou a vida
deles, e ganharam um novo motivo para trabalhar, cuidar dos rebanhos,
viver…
Estamos
acostumados a ver o Natal apenas como um encantável menino que sorri
(ou chora). E então a única motivação que se pode vir é o
retorno à inocência verdadeira da infância. Mas esta infância
muitas vezes é confundida com uma transferência de sentimentos ou
situações confundidas e marcadas ao longo da nossa história. Ou
seja, no Natal, queremos nós muitas vezes voltar a ser crianças, no
atraente mundo das compras e gastos, onde a desculpa, ou o culpado é
sempre o famoso “espírito natalino”.
A
primeira coisa que posso dizer, que este espírito natalino não está
nas lojas, não está festas, não está na ceia, não esta na roupa
nova, ou no sapato novo. Então onde está este espírito natalino,
para que o possamos conhecer?
Com
certeza ele está no coração de cada um que reconhece que o Natal
só terá sentido se for cheio de, primeiramente, gratidão por um
Deus que, amando tanto a pessoa humana, se fez pessoa. A gratidão
nos leva à um segundo sentimento, a partilha. A partilha não é
apenas uma troca de presentes feita no popular “amigo secreto”.
Mas é um saber presentar. Não com aquilo que o outro quer, mas com
aquilo que o outro precisa. Por exemplo, tem tantas pessoas ao nosso
lado, às vezes na nossa própria casa, que muito mais que um par de
sapatos novos, precisaria de um abraço de reconciliação. Do
sentimento que nos leva à partilha, nasce uma postura, aquela da
comunhão. Muitas vezes, no Natal temos mais comunhão com as pessoas
que estão conosco nas filas gigantescas das grande lojas, do que com
Aquele que realmente nos chama à verdadeira comunhão, que nada mais
é que um pertencer a um Outro, e isto experimentamos
maravilhosamente na missa de Natal. Esta comunhão com Deus nos
convida à uma comunhão com os irmãos.
Fonte: Canção Nova
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